Aviões do futuro: supersônicos ou elétricos?
Por: Maycol Vargas Fonte: ars Technica
Nos últimos dias, duas empresas traçaram visões radicalmente diferentes, no entanto similares, a respeito do futuro das viagens aéreas. Em ambos os casos, o potencial para mudança no setor aeronáutico como conhecemos é imenso.
- A primeira ideia tem como base a construção de uma rede de pequenas aeronaves elétricas, capazes de pouso e decolagem vertical (eVTOL). Essas aeronaves teriam a capacidade de transporte de passageiros de e para áreas urbanas. No entanto, essa ideia não é nenhuma novidade, sendo que esse cenário já é previsto desde os anos 50.
- A segunda ideia é a aposta em uma frota de aviões supersônicos, levando passageiros de uma cidade a outra ao redor do mundo. A ideia de voos supersônicos, para muitos era um sonho distante, assim como as operações do concorde há cerca de 20 anos atrás.
Carros voadores
Entre as duas ideias propostas, a do carro voador é a que mais parece próxima de se tornar realidade. Recentemente, a Joby Aviation anunciou o seu próximo passo, que é o de levar seus serviços eVTOL para a população. A Joby assinou um acordo com duas empresas imobiliárias, sendo elas a Neighbourhood Property Group e a Reef Technology. O acordo assinado visa permitir o acesso à cobertura de 5.000 garagens de estacionamento nos Estados Unidos e na Europa. Comparativamente, existem aproximadamente 5.600 heliportos dentro dos EUA, que são gerenciados pelos mais diversos proprietários.
Aviões tradicionais exigem muito espaço para pouso e decolagens, enquanto os helicópteros necessitam locais amplos para proteger as pessoas de seu downwash. Adicionando a lista de desvantagens, tanto aviões como helicópteros geram uma grande quantidade de ruido. A Joby Aviation espera que o design de sua aeronave resolva, no mínimo, o problema com ruídos. Segundo relato da Bloomerang, o eVTOL não é silencioso, mas comparativamente o barulho equivale ao de um ar condicionado de telhado.
Em um vídeo lançado no início deste ano, o fundador JoeBen Bivert fica diante de um dos modelos de cinco lugares de sua empresa, falando sem levantar a voz enquanto a aeronave girava e decolava atrás dele.
A Special Message from CEO and Founder, JoeBen Bevirt – YouTube
As aeronaves eVTOL da Joby Aviation são silenciosas devido à sua configuração. Cada uma é propulsionada por seis motores que acionam rotores de 9,5 pés de diâmetro. A ausência de uma caixa de câmbio reduz algum ruído, e uma baixa velocidade durante o voo vertical elimina ainda mais ruído.
Joby espera certificar sua aeronave em 2023, um ano antes de planejar o lançamento de serviços comerciais em cidades como Los Angeles, Nova York, Miami e San Francisco. A Joby Aviation assumiu o táxi aéreo do Uber em dezembro de 2020, e a empresa de transporte investiu US $ 75 milhões na startup de aviação. A Uber planeja oferecer voos à Joby por meio de seu aplicativo de carona.
Concorde
Os serviços elétricos (eVTOL) para transporte de passageiros não poderiam ser mais diferentes do que os anunciados pela United Airlines. A gigante empresa norte americana anunciou que está encomendando 15 jatos da startup de aviação Boom Supersonic, com a opção de comprar mais 20 unidades adicionais. Cada avião supersônico custa US $ 200 milhões e, como o Boom não oferece descontos, que são típicos em outras partes do setor, todo o negócio vale US $ 3 bilhões.
Segundo a Boom Supersonic, os aviões Overture farão suas viagens sobre o oceano com velocidade até duas vezes maior do que a velocidade dos jatos convencionais. Os jatos voariam a uma velocidade de até Mach 1.7, o que reduziria consideravelmente o tempo de voo. Como exemplos, podemos citar os voos entre Nova Iorque e Londres, que cairiam de cerca de seis horas e meia para três horas e meia e os de São Francisco para Tóquio, o que levaria apenas seis horas ao invés das 10 horas e meia de voo.
A Boom Supersonic arrecadou US $ 270 milhões em financiamento, mas terá que atrair muito mais se for colocar sua aeronave Overture em serviço comercial. A CEO da Boom, Jacqueline D. Reses, estima que o custo de todo o processo pode chegar até a US $ 8 bilhões.
As despesas de desenvolvimento podem não ser os únicos custos que manterão as aeronaves em solo. Muitas companhias aéreas pararam de utilizar o Concorde devido a seus altos custos operacionais. Comparado aos 747s atuais, o Concorde precisava de 11 vezes mais combustível para transportar cargas úteis semelhantes percorrendo a mesma distância.
Para amenizar o sentimento de culpa dos passageiros, devido a grande quantidade de emissão de carbono na atmosfera, a Boom Supersonic diz que está trabalhando com a Prometheus Fuels, uma startup que usa membranas de nanotubos para produzir combustíveis para aviação a partir do dióxido de carbono retirado da atmosfera. Se combinada com energia renovável, essa parceria permitiria que os voos da Overture tivessem emissões de carbono zero (embora ainda houvesse emissões consideráveis de NOx). No entanto, a United Airlines e a Boom não se comprometeram a usar os chamados e-fuels, apenas dizendo que os aviões seriam capazes de usar combustíveis sustentáveis.
Maycol M. Vargas é Eng. Aeronáutico com Doutorado em Engenharia e Tecnologia Espaciais e correspondente da eyesonbrasil.