Fernando Haddad:

O clima é oportunidade tremendo de desenvolvimento
eyesonsuriname
Amsterdam, 22 de maio de 2025– Por anos, defensores do clima argumentaram que desacelerar emissões requer que governos incorporem o clima em toda a política governamental—incluindo e especialmente a política econômica. Em poucos lugares tal abordagem criou raízes mais profundas do que no Brasil.

O Ministro da Fazenda Brasileiro Fernando Haddad em uma turnê pelos EUA para promover seu país como sede para data centers e imerso em conversas urgentes sobre comércio global.
Mas clima e a transição energética não estavam longe de sua mente.
Ele discutiu um novo mecanismo de financiamento para proteção florestal, um novo preço doméstico de carbono no Brasil, e como esforços climáticos moldarão o comércio. Até mesmo sua proposta de data centers incorporou mudanças climáticas e a capacidade da rede elétrica do país de atender sustentavelmente à demanda de energia da IA.
“Um dos nossos maiores potenciais é precisamente o fato de que mapeamos nossa energia limpa e ela pode ser combinada com uma política digital inteligente,” diz ele.
Neste momento histórico estranho, pode ser difícil discernir para que lado sopram os ventos da transição energética.

O trabalho de Haddad oferece um importante estudo de caso. O Brasil é um mercado emergente com uma grande economia orientada para exportação que mantém fortes relações diplomáticas através de divisões geopolíticas.
O governo Lula está mantendo o curso no desenvolvimento verde não apenas porque o país é vulnerável aos impactos climáticos, mas porque continua a ver a oportunidade econômica.
A capacidade do Brasil de ancorar seu desenvolvimento econômico na transição verde é em grande parte uma função simples de seus recursos. Suas terras agrícolas podem ser usadas para produzir biocombustíveis de queima limpa, e suas ricas florestas tropicais servem uma importante função ecológica. E, graças à vasta rede de hidrovias do país, sua rede elétrica funciona amplamente com energia hidrelétrica.
Mas não era dado que o país escolheria usar seus recursos ecológicos para o bem. Sob o presidente Jair Bolsonaro, o governo anterior permitiu desmatamento rápido em troca de ganho econômico rápido e desconsiderou o impulso global para ação climática.
Quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o cargo em 2023, o país fez uma rápida guinada em direção a uma abordagem mais sustentável. Lançou um Plano de Transformação Ecológica com pilares-chave em financiamento sustentável, economia circular, e desenvolvimento da bioeconomia. “A ação governamental está sendo adaptada a essas prioridades,” diz Haddad.
O ministério da fazenda de Haddad serve como um nó indispensável na facilitação de políticas como o novo mercado de carbono do país. Trabalha para desenvolver mecanismos para atrair capital para proteção florestal, e coordena com o Banco Nacional de Desenvolvimento Brasileiro, uma instituição-chave facilitando investimento privado no país, para garantir que o financiamento esteja alinhado com planos de desenvolvimento verde. Um programa recentemente lançado, por exemplo, conta com dinheiro público brasileiro para subsidiar taxas de juros para restaurar terra degradada.
Este apoio federal ajudou a facilitar uma onda de investimento privado em esforços de reflorestamento.
Neste momento, com os EUA se removendo da colaboração climática global e outros recuando mais sutilmente, muitos temeram que o retrocesso se espalhará. Mais cedo no dia Haddad havia se encontrado com o Secretário do Tesouro americano Scott Bessent. Então, perguntei se sua agenda verde apresentava dificuldades para trabalhar com os EUA neste momento geopolítico tenso. “Pelo contrário, nossas políticas de transformação ecológica não afetam nossa relação com os EUA,” respondeu. “Empresas que têm interesse nesta agenda podem vir ao Brasil.”

A visão de Haddad do trabalho climático internacional é uma de países com ideias similares trabalhando juntos na agenda climática e definindo suas respectivas abordagens—mesmo enquanto continuam a fazer negócios com países fora do clube. “Não acredito que haverá uma posição unânime sobre a necessidade de acelerar a transformação ecológica,” diz ele. “Mas acredito que vários países manterão seus compromissos.”
Esse pensamento foi uma parte-chave no desenvolvimento do sistema de cap-and-trade do país, que foi promulgado no ano passado e está no processo de ser implementado. O programa estabelece metas de redução de emissões para a indústria e permite que empresas comprem créditos se falharem em alcançá-las. Estabelecer um programa doméstico prepara o Brasil para comércio suave com outros países que implementaram um preço de carbono—e pode oferecer ao Brasil uma vantagem dada sua rede descarbonizada. “O mercado de carbono deveria ser internacionalizado ao invés de pensado apenas como um programa nacional,” diz ele. “Esperamos que se torne um framework internacional ao longo do tempo.”
No passado, o Brasil foi caracterizado como um oponente de políticas que criam barreiras comerciais relacionadas ao clima, incluindo a política europeia de ajuste de fronteira de carbono, conhecida como CBAM, que taxa importações de alto carbono. Durante nossa entrevista, Haddad ofereceu uma visão mais nuançada, dizendo que o Brasil quer “um ajuste do ajuste.” Um assessor contribuiu para caracterizar a abordagem do Brasil como “oposição construtiva.” Se países ao redor do mundo adotarem precificação de carbono, diz Haddad, políticas como CBAM podem fomentar um aprofundamento na política climática. “Um arranjo internacional com as nações comprometidas com desenvolvimento verde pode mudar as regras do jogo,” diz ele.
Para minha mente, uma das questões mais difíceis para o mundo climático agora é que instituições podem realmente ser capazes de entregar tal consenso. Os EUA desempenham um papel central em muitas das instituições que dominaram o mundo pós-guerra. E instituições climáticas de longa data precisam gerenciar divisões de longa data.
O Brasil tem um assento em muitos desses diferentes grupos, evitando alinhamento muito próximo com qualquer lado das divisões que atualmente dividem muito do mundo. Haddad não vê ação climática sendo liderada exclusivamente por qualquer dos blocos existentes. “Não vai haver uma divisão simples entre os clubes que são a favor ou contra,” disse ele. “Não há unidade no G7 hoje, também não há unidade no BRICS… A agenda ambiental emergirá através de outros arranjos.”

O Brasil tem uma oportunidade de moldar quaisquer arranjos que possam emergir. O país está sediando a próxima conferência climática das Nações Unidas, conhecida como COP30, na cidade amazônica de Belém em novembro. Mas, não importa o que aconteça na COP30, o país tem a fundação para moldar a agenda global por décadas vindouras.







