Por que Timor-Leste Recorreu à Noruega

e a Namíbia Agora Observa a Guiana
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Amsterdam, 14 de julho de 2025– Quando Timor-Leste tornou-se independente em 2002, enfrentou um enorme desafio: como gerir suas vastas reservas de petróleo e gás offshore sem cair nas armadilhas da corrupção, do desperdício e da desigualdade. Os líderes do jovem país tomaram uma decisão incomum: pediram ajuda à Noruega.
O Modelo Norueguês como Referência
Desde os anos 1970, a Noruega construiu uma reputação sólida na gestão responsável das receitas do petróleo. O país criou oGovernment Pension Fund Global, conhecido como fundo soberano do petróleo, para administrar essas receitas de forma transparente e com foco no futuro. Também fortaleceu instituições públicas e investiu pesadamente em educação, saúde e infraestrutura.

Em 2003, Timor-Leste estabeleceu parceria com aNORAD(Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento) para implementar o programaOil for Development. O objetivo: ajudar Timor-Leste a criar instituições e políticas que garantissem que o petróleo beneficiaria o povo — e não apenas as elites.
Essa parceria permitiu ao país criar um fundo soberano baseado em leis de transparência e responsabilidade pública. Apesar de ainda enfrentar pobreza e instabilidade política, a forma como Timor-Leste gere seus recursos petrolíferos é amplamente elogiada.
E a Namíbia?
A Namíbia, que recentemente descobriu grandes reservas de petróleo e gás no mar, escolheu outro caminho. Em vez de se inspirar na Noruega, o país volta seus olhos para aGuiana, uma nação que encontrou petróleo em 2015 e desde então apresenta um dos crescimentos econômicos mais rápidos do mundo.
A Guiana seguiu uma estratégia prática e acelerada, firmando parcerias com gigantes como a ExxonMobil. Isso gerou investimentos massivos, empregos e obras de infraestrutura — mas também suscitou preocupações com controle nacional, desigualdade e danos ambientais.

A Namíbia está atraída pela rapidez e escala do sucesso guianense. O que a Noruega levou 50 anos para construir, a Guiana tenta realizar em apenas 10 — uma proposta sedutora para países em busca de resultados rápidos.
Dois Caminhos, Duas Visões
A escolha entre Noruega e Guiana reflete uma questão fundamental:gestão sustentável de longo prazooucrescimento acelerado baseado na extração. Timor-Leste optou por um modelo cauteloso, focado em governança. Já a Namíbia parece mais interessada em ganhos rápidos e relevância internacional.
Ambas as estratégias têm vantagens e riscos. O modelo norueguês oferece estabilidade, mas exige instituições fortes e paciência. O modelo guianense promete crescimento rápido, mas pode provocar desequilíbrios sociais e ambientais.
Conclusão
A decisão de Timor-Leste de trabalhar com a NORAD mostra um compromisso com a boa governança. O interesse da Namíbia na Guiana revela uma mudança global: menos dependência da ajuda ocidental e mais foco em modelos de cooperação Sul-Sul.
A questão não é qual modelo é melhor, mas:qual se adapta melhor aos valores, capacidades e objetivos de cada país?
Como disse um ex-ministro timorense:“Procuramos a Noruega porque eles sabiam que o petróleo pode ser uma maldição — a menos que você o controle com visão.”
Falei com Antonio Romero, CEO da Petrolifting. Ele disse
ParaAntonio Romero, CEO da empresa colombo-venezuelana de energiaPetrolifting, não é surpresa que países como a Namíbia estejam olhando para a Guiana em vez da Noruega. Em um recente painel do setor, Romero declarou:
“O modelo norueguês é tecnicamente brilhante, mas politicamente e institucionalmente difícil de replicar na maioria das economias emergentes. A força da Guiana não está na perfeição — está na velocidade. E, neste mercado, velocidade é ouro.”
Embora reconheça o sucesso da Noruega, Romero argumenta quemuitos países da África e da América Latina não têm as instituições estáveis, coesão social ou paciêncianecessárias para implementar um sistema como o norueguês.
Com necessidades urgentes em emprego, infraestrutura e crescimento, aabordagem acelerada da Guiana— baseada em produção offshore, parcerias público-privadas e receitas imediatas — torna-se muito mais atraente.

Ainda assim, Romero faz um alerta:
“Se você copiar apenas o crescimento explosivo da Guiana sem enfrentar os desafios de governança, estará apenas imitando a superfície. Precisamos de um modelo híbrido: talvez a velocidade guianense com a disciplina norueguesa.”
Romero defende, portanto, uma estratégiacontextualizada, adaptada às capacidades institucionais, políticas e necessidades urgentes de cada país.
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